quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Brasil Colônia

As primeiras décadas da colonização

 

 Com a descoberta do novo caminho para as Índias,o comércio de especiarias era a preciosa fonte de riquezas de Portugal.Lisboa,capital desse lucrativo comércio,destacava-se na época pela agitada vida econômica.
 Foi nesse contexto,em que as atenções portuguesas estavam voltadas para o comércio oriental,que se deu o ''descobrimento'' do Brasil.
 Após as primeiras expedições,os enviados da coroa portuguesa perceberam que não seria possível obter lucros fáceis e imediatos,pois não encontraram,de início,as desejadas jazidas de ouro.
 Por outro lado,embora houvesse,no litoral,grande quantidade de pau-brasil,árvore da qual se extraía uma cobiçada tinta corante para tecidos,o lucro gerado pela exploração dessa madeira ainda seria menor do que o então vantajoso comércio de produtos africanos e asiáticos.

Primeiras expedições ao Brasil


 Por essas razões,houve inicialmente pouco interesse de Portugal pelas terras americanas.Nos primeiros 30 anos(1500-1530),o governo português limitou-se a enviar para cá algumas expedições marítimas destinadas principalmente ao reconhecimento da terra e à preservação de sua posse.Só depois teve início o efetivo processo de colonização portuguesa do Brasil.
 As principais expedições marítimas portuguesas enviadas ao Brasil nesse período,denominado pré-colonizador por alguns historiadores,foram:
  • Expedição comandada por Gaspar de Lemos(1501) - explorou grande parte do litoral brasileiro e deu nome aos principais acidentes geográficos então encontrados(ilhas,cabos,rios.baías).
  • Expedição comandada por Gonçalo Coelho(1503) - organizada por conta de um contrato assinado entre o rei de Portugal e um grupo de comerciantes interessados na exploração do pau-brasil,dentre os quais se destacava o rico comerciante Fernão de Noronha. 
  • Expedições comandadas por Cristóvão Jacques(1516 e 1520) - organizadas para tentar deter o contrabando de pau-brasil feito por outros comerciantes europeus,como os franceses.Essas duas expedições - chamadas de guarda-costas - não foram bem-sucedidas,devido à grande extensão do nosso litoral. 

A extração do pau-brasil


 A primeira riqueza explorada pelos europeus em terras brasileiras foi,portanto,o pau-brasil(Caesalpinia echinata) - árvore assim denominada devido à cor de brasa do interior de seu tronco.Os índios a chamavam ibirapitanga ou arabutã,que significa ''madeira ou pau vermelho''.
 A presença de pau-brasil era tão abundante no litoral,na faixa que vai do estado de Pernambuco até Angra dos Reis,no estado do Rio de Janeiro.Antes da conquista da América,os europeus compravam pau-brasil do Oriente,mas a partir do século XVI tornou-se mais lucrativo extraí-lo de terras americanas.

Monopólio da Coroa


 Aos ser informado da existência de pau-brasil nestas terras,o rei de Portugal não demorou a declarar sua exploração monopólio da coroa portuguesa.Isso significava que ninguém poderia retirá-lo das matas brasileiras sem prévia permissão do governo português e pagamento do tributo correspondente.Essa declaração,no entanto,não foi respeitada por ingleses,espanhóis e,principalmente,franceses;todos eles continuaram extraindo clandestinamente a madeira do litoral brasileiro.
 A primeira concessão da Coroa para exploração do pau-brasil foi dada ao comerciante português Fernão de Noronha,em 1502.Seus navios foram os primeiros a chegar à ilha que mais tarde recebeu seu nome.
 Os comerciantes de pau-brasil eram chamados brasileiros - termo que,com o tempo,perdeu o sentido original e passou a ser utilizado,amplamente,para designar os colonos nascidos no Brasil.

Trabalho indígena

 

A extração de pau-brasil nesse período dependia da mão-de-obra dos indígenas - eram eles que derrubavam as árvores,cortavam-nas em toras e carregavam-nas até os locais de embarque nos navios.
 Esse trabalho era conseguido de forma amigável,por meio do escambo.Em troca de uma série de objetos(como pedaços de tecido,anzóis,espelhos e,às vezes,facas e canivetes),os indígenas derrubavam as árvores com os machados fornecidos pelos europeus.

Instalação de feitorias

 

 Por seu caráter predatório e destruidor,a extração de pau-brasil demandava,em certa medida,um comportamento nômade:os exploradores deslocavam-se pelas matas litorâneas à medida que a madeira ia se esgotando.Por isso,essa atividade não deu origem a núcleos significativos de povoamento.
 Foram construídas apenas algumas feitorias em determinados pontos da costa,onde a madeira era mais abundante.Esses locais serviam para armazená-la e protegê-la dos ataques de franceses e de tribos hostis.

  

Colonização

A decisão de ocupar a terra

 

 Vimos anteriormente que,de acordo com o tratado de Tordesilhas,Portugal Espanha eram os únicos donos das terras na América.Mas vimos também que franceses,holandeses e ingleses não respeitavam esse tratado e disputavam as posse de territórios americanos com portugueses e espanhóis.
 Essa disputa intensificou-se principalmente a partir da notícia de que os espanhóis haviam descoberto ouro e prata em áreas que hoje correspondem ao México e ao Peru.
 O governo português receava perder as terras americanas.As expedições que tinha enviado até então não conseguiam deter a atuação clandestina de outros europeus,especialmente dos franceses,que haviam estabelecido alianças com os indígenas tupinambás para extração de pau-brasil.Para acabar com esse contrabando e evitar as invasões,garantindo a posse das terras,a Coroa portuguesa decidiu colonizar o Brasil.
 Garantir a posse da terra não foi,porém,a única razão para o governo português iniciar a colonização.O fator econômico também influiu.O comércio de Portugal com o Oriente tinha entrado em declínio,devido aos elevados custos com transporte e manutenção de entrepostos.A concorrência de franceses,ingleses e espanhóis,que exploravam a mesma rota comercial,havia contribuí para baixar os ganhos portugueses.Assim,para o governo de Portugal,que procurava alternativas para aumentar os lucros comerciais,a colonização da América começou a ser vista como uma possibilidade de realizar bons negócios.
 Além disso,a descoberta de ouro e prata nas colônias espanholas da América foi uma motivação a mais para a vinda dos portugueses,que sempre desejaram encontrar ouro em ''suas'' terras ultramarinas.


Primeira expedição colonizadora


 Cinco navios e uma tripulação de cerca de 400 pessoas.Assim era composta a expedição comandada por Martim Afonso de Souza,que partiu de Lisboa em dezembro de 1530,com a missão de:
  • iniciar a ocupação da terra por portugueses(colonos) e sua exploração econômica;
  • combater os corsários estrangeiros;
  • procurar ouro;
  • fazer um melhor reconhecimento geográfico do litoral.
 Em 22 de janeiro 1532,buscando estabelecer núcleos de povoamento,Martim Afonso fundou a primeira vila do Brasil,São Vicente.Fundou também alguns povoados,como Santo André da Borda do Campo e Santo Amaro.


Cultivo da cana-de-açúcar

 

 Era preciso desenvolver também uma atividade econômica que compensasse o empreendimento colonizador.A solução encontrada pelo governo português foi implantar a produção açucareira em certos trechos do litoral,uma vez que o açúcar era um produto amplamente consumido na Europa.Por meio da cultura da cana,seria possível organizar o cultivo permanente do solo,iniciando o povoamento sistemático da colônia.
 Assim,na região de São Vicente,os primeiros colonos iniciaram o cultivo da cana-de-açúcar e,logo depois,instalaram o primeiro engenho do Brasil.
 Ao decidir implantar a empresa açucareira no Brasil,Portugal deixava a atividade meramente extrativista e predatória(a exploração de pau-brasil) e iniciava a montagem de uma organização produtiva dentro das diretrizes do sistema colonial.A produção de açúcar para o mercado europeu marcaria a história colonial do Brasil.

Monopólio comercial português

 

 No início do século XVI,época da instalação dos primeiros engenhos e núcleos de povoamento,o comércio do açúcar era relativamente livre.A coroa concedia terras a portugueses e estrangeiros que tivessem recursos para a instalação de engenhos.
 Entre 1560 e 1570,a economia açucareira aumentou significativamente.Percebendo a expansão do negócio do açúcar,o rei de Portugal,d.Sebastião,decidiu estabelecer regras mais rígidas para a concessão de terras.Em 1571,decretou que o comércio colonial com o Brasil deveria ser feito exclusivamente por navios portugueses.Com isso,o governo pretendia implantar o monopólio comercial(que era chamado,na época,de exclusivo metropolitano) nas transações com o açúcar.
 Como vimos no capítulo anterior,o sistema colonial era baseado,sobretudo,no monopólio comercial - um instrumento de domínio econômico da metrópole(no caso,Portugal) sobre a colônia(no caso,o Brasil) - que dava à coroa portuguesa o direito exclusivo de realizar comércio com o Brasil.Por esse sistema,percebemos que os produtos coloniais eram comprados pelos preços mais baixos do mercado,enquanto os artigos metropolitanos eram vendidos para os colonos do Brasil pelos preços mais altos.

Escravização dos indígenas


 O relacionamento entre os comerciantes portugueses  e os vários povos indígenas foi se tornando conflituoso à medida que os nativos resistiam e não se submetiam aos colonos europeus.Estes,no entanto,para satisfazer suas necessidades,não hesitaram em usar violência contra os indígenas e impor-lhes a escravidão.
 A escravização indígena estabeleceu-se a partir de meados do século XVI,principalmente quando os colonos portugueses passaram a necessitar de mão-de-obra para a produção açucareira.Os portugueses e alguns aliados indígenas guerreavam contra os ''índios inimigos'',e os prisioneiros eram distribuídos ou vendidos como escravos.
 No século XVII,a escravização indígena continuou ligada à expansão açucareira pelo lioral,mas se estendeu também para outras áreas(São Paulo,Maranhão,Pará),em atividades econômicas como,por exemplo,o cultivo de milho,feijão,arroz e mandioca,e a extração das ''drogas do sertão'' (guaraná,cravo,castanha,baunilha,plantas aromáticas e medicinais).
 O escravo indígena também foi utilizado para o transporte de mercadorias.De São Paulo a Santos,por exemplo,o carregador nativo descia a Serra do Mar transportando nos ombros cargas de aproximadamente 30 quilos.